Os idosos brasileiros estão mudando suas prioridades de consumo e hoje 41% deles afirmam gastar mais com produtos que desejam do que com itens relacionados às necessidades básicas da casa, conforme levantamento inédito do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e do portal de educação financeira Meu Bolso Feliz.
A aposentada Ciléa Tavares França, 62, é um deles. “Os produtos essenciais chegam, quando muito, na casa dos 20% do meu rendimento”, diz.
Como não paga aluguel, tem aposentadoria e continua trabalhando como professora, os gastos de Ciléa são, em sua maioria, com cultura. “Viajo duas vezes ao ano, compro de três a quatro livros por mês, vou ao teatro duas vezes por mês e ao cinema, três. Continuo trabalhando, pois gosto do que faço, só que com menor número de aulas”, conta.
Ela explica que não paga condomínio já que é síndica do prédio onde mora.
A pesquisa mostrou que, embora represente um nicho promissor – já que a população idosa deve ultrapassar a marca de 30 milhões de indivíduos em 2025, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) -, o mercado brasileiro parece não estar plenamente preparado para atender às demandas desses consumidores. Pelo menos 45% dos entrevistados afirmaram ter dificuldades para encontrar produtos destinados ao público de sua idade. Essa impressão é mais notada, especificamente, pelas mulheres (47%) e pelas pessoas entre 70 e 75 anos (51%), segundo a pesquisa.
Entre os produtos que esses consumidores mais sentem falta estão roupas (20%), celulares com letras e tecladas maiores (12%), locais que sejam frequentados por pessoas da mesma idade (9%), turismo exclusivo (7%), além de produtos de beleza (3%).
Ciléa, que não é casada e não tem filhos, reclama da embalagem dos produtos. “Aqui no Brasil, boa parte dos pacotes é voltado para as famílias. Há poucas opções de pacotes menores”, reclama a professora.
Outra reclamação é encontrar um sapato de salto elegante e confortável. “Nem as jovens aguentam. Vão às festas e, no final, acabam tirando os sapatos”, observa.
Edith Pereira, 79, assim como Ciléa, gosta de viajar. “Meus filhos já são adultos e posso passear”, diz. A aposentada mora com um dos seis filhos e conta que também gosta de comprar sapatos e roupas.
A pesquisa também mostrou que aproveitar a vida é considerado por seis em cada dez entrevistados (66%) como a grande prioridade de suas vidas no atual momento. E para quase metade (49%) dos idosos ouvidos, neste estágio da vida, aproveitar os momentos consumindo é mais importante do que poupar.
Vontades. Edith Pereira, que era auxiliar de enfermagem, gosta mesmo é de viajar e comprar roupa
Fonte: O Tempo
Foto: Denilton Dias